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31 anos sem Ayrton: 1º de maio, o dia que o Brasil parou

Atualizado: 27 de mai.

"Bateu na Tamburello Ayrton, fora da prova o brasileiro Ayrton Senna. E foi uma batida muito feia”


Por Bianca Emisa,

Nosso Senna, escultura de Lalalli Senna em presente no Autódromo de Interlagos (Arquivo pessoal de Bianca Emisa)
Nosso Senna, escultura de Lalalli Senna em presente no Autódromo de Interlagos (Arquivo pessoal de Bianca Emisa)

A narração firme de Nilson César, pela Rádio Jovem Pan, ecoou nas casas brasileiras naquela manhã de domingo. Uma frase que arrepiou (e ainda arrepia ) milhões. Uma frase que infelizmente marcou para sempre a história de uma nação inteira.


Há 31 anos, o Brasil conhecia o luto de uma forma diferente. Não era apenas a perda de um piloto. Foi a queda de um herói. Um símbolo de esperança, coragem e orgulho nacional. No 1º de maio de 1994, o tempo pareceu desacelerar. E o país parou.


“Senna bateu, e bateu forte"


Haroldo, hoje com 79 anos, lembra com precisão. Ele assistia à corrida quando ouviu Galvão Bueno narrar o que ninguém queria ouvir: “Senna bateu, e bateu forte!". A imagem do carro azul e branco parado, imóvel, na curva Tamburello, atravessou a tela e o coração de milhões.


Glaucia, sua filha, com 19 anos, lavava o carro na rua quando  Haroldo gritou da janela:


— “Senna bateu!”


Ela largou tudo, subiu correndo e ficou ali, parada em frente à televisão. O tempo congelado. “Ficamos incrédulos, aguardando a notícia que não queríamos ouvir”, relembra. Em sinal de luto, ela trançou um cordão verde e amarelo com tecido preto e usou como pulseira. Era a forma simbólica de carregar no corpo aquilo que o coração não conseguia expressar em palavras.


Carlos David, hoje adulto, mas na época com apenas sete anos, revive aquele dia com uma memória tocante:


— "Meu irmão tinha acabado de nascer. A casa estava silenciosa. Eu e meu pai assistíamos à corrida como todo domingo. De repente, algo mudou. A narração ficou séria. Olhei para o meu pai: ele estava com os olhos cheios de lágrimas. Foi uma das primeiras vezes que vi meu pai chorar."


Na mesma casa, sua mãe também chorava. E Carlos, mesmo criança, entendeu: “Perdemos alguém muito importante.” O telefone tocou. Um amigo do pai, do outro lado da linha, não dizia nada, apenas chorava.


Quando a festa acabou: o peso do silêncio


Em Jacareí, interior de São Paulo, a casa de Mari estava em festa. Os pais preparavam uma feijoada, amigos estavam reunidos, crianças corriam pelos corredores. A TV, claro, ligada na Fórmula 1.


— "De repente, ele bateu. E a festa acabou.”


As crianças sentaram no chão. Os adultos se aglomeraram em silêncio em frente à televisão. “Era inacreditável”, resume Mari. A vida seguiu naquele domingo, mas sem cor, sem sabor. Reflexo de um país em choque.


Larissa Pontes (Lalíta) também assistia à corrida com a família. Era um hábito de domingo, um ritual de união.


— "Estávamos todos no sofá, como sempre. Quando aconteceu o acidente, ninguém entendeu direito. Ficamos esperando qualquer notícia. Se a corrida seguiria? Já não importava."


A televisão seguiu ligada, como que buscando esperança em cada plantão. Lalíta se lembra dos acordes inconfundíveis do plantão da Globo:


— "A primeira notícia foi de traumatismo craniano grave. Mais tarde, a confirmação de morte cerebral. E então o silêncio invadiu a sala…Foi um dia de sofrimento. O legado dele, no entanto, continua até hoje."


Ela relata que, a partir daquele domingo, a Fórmula 1 perdeu parte do seu brilho para. Para ela e tantos outros, a morte de Senna foi o fim de uma era.

   Fernando Girotto tinha 11 anos e almoçava com a família naquele domingo típico de casa italiana: macarronada, queijo ralado e frango assado. A TV ligada na Fórmula 1, como sempre.


— "No momento do acidente já tínhamos terminado de almoçar e o clima imediatamente se transformou em tensão generalizada. O resgate do Senna, pareceu uma eternidade. Seguimos vidrados na TV até ouvir a notícia que ninguém queria ouvir, e mesmo sendo uma criança, lembro que chorei compulsivamente. Totalmente abalado pela notícia. Acho que, assim como muitos, ficamos de luto ( inclusive de assistir corridas da F1 ) por muito tempo.

Pra gente, nunca mais foi a mesma sensação de ligar a TV e assistir uma corrida."


O eco do legado: jovens que cresceram ouvindo o nome Ayrton Senna


Lívia Vieira, tem 23 anos, não viu Senna correr, mas fala sobre o piloto com brilho nos olhos.


— "Ele representa a luta por um sonho gigante. Na série sobre ele, vi quantas vezes ele quis desistir. Mas não desistiu. Isso é o maior ensinamento que ele deixou pra mim."


A mãe de Lívia, do interior de São Paulo, lembra com emoção daquele dia. A cidade inteira parecia parar para admirar quando Senna corria. O cenário era composto por uma TV pequena, e toda a vizinhança reunida. No dia da batida, o país congelou, e a dor se espalhou como se fosse um luto familiar.


Yuri Rosa nasceu dez anos após a morte de Senna. Mas sente como se tivesse vivido próximo a ele.


— "Senna é exemplo de resiliência e dedicação. Quando tudo parecia falhar, ele resistia. Mesmo sem ter visto uma corrida ao vivo, é meu maior ídolo."


Para Celina Bittencourt, Senna é mais que um nome no esporte.


— “Ayrton, pra mim, é sinônimo de domingo. Mesmo sem ter vivido aquela época, ele representa o que o domingo oferece: cumplicidade familiar, rapidez, beleza."


Ela conta que seus pais não eram fãs de automobilismo. Mas quando Senna apareceu na Fórmula 1, tudo mudou.


— "Minha mãe sempre me disse que viu Senna bater e morrer. E só sabia chorar. Foi um domingo trágico pro Brasil."


Uma memória coletiva


As histórias se repetem: famílias reunidas, olhos fixos na TV, a batida, o silêncio, as lágrimas. Pessoas que nunca se viram compartilham o mesmo sentimento, como se Senna fosse parte de cada família, de cada lar.


Há algo de sagrado nesse 1º de maio. Um instante congelado no tempo. A batida na Tamburello não levou só um corpo. Levou uma parte da autoestima nacional. Mas também deixou algo: um legado.


Ayrton Senna segue vivo nos pequenos gestos. Num cordão trançado com tecido preto. Nas lágrimas de um pai. Na paixão de um jovem que o descobriu por um documentário. No silêncio respeitoso de uma sala de estar. Em cada “tantã-tantã” que antecede um plantão jornalístico.


Senna é sentimento. É estado. É conquista. É símbolo.


Ele é pertencimento. Inspiração. Ele é o Brasil que deu certo, que lutou, que venceu. Um pedaço de todos nós.


Trinta e um anos se passaram. Mas em cada domingo, em cada curva, em cada jovem que sonha grande — Senna vive.

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