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Nem Barcelona, nem Real

Atualizado: 1 de abr.

Atlético de Madrid, o time da coragem que conquistou meu coração


Por Bianca Emisa,


Era minha primeira vez em Madrid. Por anos, cultivei o sonho de estar na Espanha, e, como boa brasileira apaixonada por futebol, era evidente que conhecia os gigantes Real Madrid e Barcelona. Claro que queria visitar seus estádios, sentir a atmosfera desses templos do futebol. Mas foi em um desvio de rota, sem planejamento, que acabei parando no Cívitas Metropolitano, na véspera de um jogo entre Atlético de Madrid e Levante.


Ainda havia poucos ingressos disponíveis e, com meu espanhol de principiante, garanti duas entradas para o meu primeiro jogo na Europa.


Itens oficiais do clube com as cores tradicionais vermelho, branco e azul
Itens oficiais do clube com as cores tradicionais vermelho, branco e azul (Arquivo pessoal de Bianca Emisa)

A ansiedade tomava conta. O jogo seria à noite, no inverno madrilenho. Eu e meu avô pegamos o metrô até o estádio e, no caminho organizado, nos misturamos a milhares de colchoneros. A segurança era evidente, e um detalhe me chamou a atenção: muitas pessoas carregavam mochilas grandes e cheias. Algo que só fui entender depois.


O Cívitas Metropolitano, com capacidade para mais de 68 mil torcedores, impunha respeito. Nossa vista era alta, e o estádio estava lotado. Diferente de outras visitas a estádios, não conheci aquele através de um tour, mas sim pela atmosfera mágica da arquibancada.


No primeiro tempo, enquanto nevava, um senhor que comia amendoins sob uma manta escura abriu sua mochila e nos entregou uma manta vermelha. Com um sorriso gentil, perguntou de onde vínhamos. "Do Brasil", respondemos rapidamente. Ele explicou que era tradição dos colchoneros levar cobertores. O estádio, amplo, não protege do frio rigoroso, e mesmo quem torce com o coração não consegue se aquecer. Achei incrível ver como os torcedores cuidam uns dos outros.


Um jogo de intensidade e coração


Dentro de campo, o Atlético de Madrid mostrou sua essência. Com mais posse de bola e quase o triplo de finalizações em relação ao Levante, a equipe pressionou o adversário durante toda a partida. O gol veio dos pés de Antoine Griezmann, em um pênalti bem cobrado aos 57 minutos, garantindo a vitória por 1 a 0. A torcida vibrou intensamente, transformando o estádio em um caldeirão. O jogo foi duro, com muitas faltas, mas sem cartões para os colchoneros, o que mostrou uma equipe combativa, mas disciplinada.



O Atlético de Madrid tem como lema "nunca deixar de acreditar", e isso se reflete em campo. A paixão dos colchoneros é diferente, visceral. Não é um clube de modismos, é um clube de pertencimento. Ali, senti na pele que o futebol não é apenas sobre vitórias, mas sobre identidade.


Um time moldado pela resistência


O Atlético de Madrid nasceu em 1903, quando um grupo de amigos decidiu criar, na capital espanhola, uma filial do Athletic Bilbao. Foi de lá que herdaram as cores vermelho e branco da camisa. Com o tempo, o clube ganhou independência e construiu sua própria identidade.


Na década de 1940, o Atlético incorporou o Club Aviación Nacional e passou a se chamar Atlético Aviación, um reflexo da forte ligação do clube com a história da Espanha. O apelido "colchoneros" surgiu nessa época, pois as cores da camisa lembravam os colchões típicos madrilenhos do período pós-Guerra Civil.


Nos anos 60, o Atlético começou a se consolidar entre os grandes, com o icônico Luis Aragonés se tornando o maior artilheiro da história do clube. Anos depois, sob o comando de Diego Simeone, o Atlético se reinventou e voltou a ser temido na Europa, disputando finais de Liga dos Campeões e conquistando títulos nacionais e internacionais.


O time que te escolhe

Estádio Wanda Metropolitano - Madrid ( Arquivo pessoal de Bianca Emisa)
Estádio Wanda Metropolitano - Madrid ( Arquivo pessoal de Bianca Emisa)

Ir a um jogo do Atlético de Madrid é vivenciar algo que transcende o futebol. O clube é uma experiência de pertencimento, onde a paixão se sobrepõe a qualquer adversidade. O "Cholismo" é mais do que um estilo de jogo, é um modo de vida: luta, resiliência e coragem.


Eu fui para a Espanha achando que seguiria torcendo para os clubes mais conhecidos. Mas na arquibancada colchonera, fui acolhida. E então compreendi: nós não escolhemos o time. Ele nos escolhe.


E claro que eu voltei...


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